terça-feira, 30 de novembro de 2010

textos viktor frankl 1

1): Liberdade de poder-ser do humano:
Desde que nasce o ser é livre e responsável por seu destino. Diante de diversas possibilidades que vêem ao humano, a cada humano somente uma possibilidade realiza o seu ser. O que torna cada ser-humano insubstituível é justamente o fato de que a vida apresenta-se como sendo irrepetível e que há um caráter único na existência de cada ser. O existir humano corresponde a poder-ser, a um ser livre e responsável e à realização de um destino, este não apenas pode ser comparado a um chão sobre o qual o ser pisa, mas um meio de alcançar a liberdade diante da existência.
Em termos de comunidade ou de agrupamentos de massa. O que se deve ter em mente é que não se vive sem um grupo em que se possa amparar, pois a constituição da existência humana depende daquilo que se estabelece em termos coletivos. Mas há muitos momentos em que estar aderido completamente a uma massa de sujeitos faz com que o ser se esqueça de sua responsabilidade diante de sua liberdade. Como ser moral, o humano entre em embate com algo que lhe é determinado, no caso o que a massa determina. A liberdade se realiza mediante um destino que é único e irrepetível para cada humano, não quer dizer que os seres-humanos são superiores, os únicos, melhores e maiores, mas que cada um realiza seu de destino como algo que lhe é único. O passado já foi consumado, mas o sujeito pode reformular sua vida buscando dar sentido ao que já ocorreu ou cair na fatalidade.
Mesmo diante da finitude, do fim de toda e qualquer existência e da proximidade da dita hora “H”, cada sujeito pode encontrar um sentido para seu existir e viver. Como é dito, a morte é o que atribui sentido à existência de cada indivíduo. As pessoas fogem de um caminho a que todos estão sujeitos, se rebela, entra em conflito e não aceitam o fim e a sua chegada, mas esquecem que sua vida é única e que cada momento da vida, cada sentido e cada existir não se repetem. O ser é ser-responsável, pois justamente estar diante da liberdade. Não há uma continuidade de sentido com a herança genética, pois o sentido é de cada pessoa, de cada situação e de cada momento. O sentido que um sujeito encontra ao cumprir determinado destino lhe único, insubstituível e termina com a morte desse mesmo sentido. Não se pode dizer que haja uma continuidade de sentido, pois aquilo que um descendente realiza um destino que lhe é próprio e não é o mesmo do antecessor de cada pessoa. Há uma crença de que o destino escapa à compreensão e ao domínio do homem. Na verdade, não há liberdade sem destino e destino sem liberdade. Os dois estão muito próximos, estando interligados.
2): Ser-humano: aquele ser cuja existência tem caráter de algo-único e irrepetibilidade:
Ao longo da existência como ser-no-mundo, o indivíduo vai constituindo uma essência que lhe é única e um sentido específico a que corresponde à “missão” desse mesmo indivíduo. O sentido não se constitui com algo dado e já constituído previamente, mas deve ser encontra na medida em que o sujeito responde às perguntas que a vida lhe traz. A pessoa busca realizar um sentido ao longo de seu existir, mesmo existindo vários sentidos a serem encontrados, apenas um único e irrepetível sentido é aquele que move todo o ser da pessoa. Realiza com uma “missão” que envolve valores de criação, de aceitação, de altitude, o amor como o contato com o ser-assim da pessoa amada entre outros que conferem a cada ser-humano o caráter de unicidade e irrepetibilidade de cada existir.
Mesmo com o último suspiro, com o chegar da morte, acontece algo único e irrepetível na pessoa, a realização plena de um sentido. Seja em uma simples atividade criadora, aceitando o fim do existir, ou a altitude que transcende o que está dado e consumado, que é a morte. Outra forma de encontrar e realizar um sentido plenamente é o amor, não no sentido de uma simples atitude sexual correspondente ao aspecto puramente corpóreo da pessoa, nem ao aspecto do erotismo que corresponde ao fator anímico do ser-humano, mas ao co-existir e o intender para o ser-assim do outro, a essência e a profundidade espiritual da pessoa que é amada. O amor corresponde ao encontro com o outro em sua profundidade cuja manifestação se dá no corpóreo (primeiro estrato do sujeito) e no anímico. Mas o contato verdadeiro com a pessoa amada se dá justamente na dimensão espiritual dessa mesma pessoa objeto de amor.
Um Eu que se encontra com um Tu em sua essência, mas com manifestações corpóreas e anímicas que não o que caracterizam especificamente essas duas dimensões menos profundas. Toca justamente na camada ou estrato espiritual de si e do outro.. A morte da pessoa amada não acaba com o amor que uma pessoa tem pela outra. Mesmo com o não existir, há uma essência do outro amado que é insubstituível para quem ama e perde a pessoa querida. Outras formas de realizar valores podem ser utilizadas pelos seres-humano ao longo de sua existência, o amor é apenas uma dessas formas, não a principal forma. È o modo como se faz algo e não o fazer propriamente dito que conferem a pessoa seu caráter de algo único e irrepetível. Tantas pessoas que trabalham a semana inteira considerando que apenas trabalhar é o que confere sentido ao existir e chegam em um dia de folga e se encontram com o que mais temem: vazio-existencial e falta de sentido para a vida?
Uma neurose dominical traz para o sujeito um sentimento de falta de sentido e de vazio existencial. O sujeito tenta de todas as formas camuflar esse sentimento, mas não conseguem tal feito, pois mau sabe que há outros valores que dão sentido a seu existir. Atividades não ligado ao trabalho laborioso do dia-a-dia de cada ser-hunano. Pessoas cujo sofrimento é intenso descobrem que ainda pelo e por quem lutar. Sabem que suas criações, mesmo simples e pequenas, aceitam o que lhes é reservado e pensam que há outra pessoa que os esperam, apesar de tudo. Uma situação de aceitação faz com que uma pessoa com sofrimento encontre forças para lutar por algo em sua vida. Quem perde a esperança acaba por pensar que há um destino que foge a seu controle. Mas, na verdade, o destino de cada indivíduo lhe é único, o que lhe confere a liberdade. Destino e liberdade estão entrelaçados de tal forma que dificilmente se fala em um destino comum a todas as pessoas. A liberdade e a responsabilidade perante o destino de cada um é o que confere ao existir unicidade e irrepetibilidade.
Cada momento é insubstituível e tem um sentido único. Cada pessoa por quem se ama também não pode ser substituída, mesmo com o fim da dimensão corpórea, pois o sujeito não é somente corpóreo e anímico, mas também espiritual. Viktor Frankl descreve muito bem como a vida degradante do campo degradante não impede o homem de encontrar um sentido para a vida seja na realização uma atividade, aceitando o fim e tendo por quem lutar e esperar. Os que se deixavam entregar ao sofrimento pereciam e morriam. O estado de apatia por que passava um prisioneiro é comum a todos aqueles que se encontram diante de situações desesperadoras. A decorrente perda de vontade de viver acaba conduzindo um prisioneiro a um total estado de desinteresse perante às possibilidades do viver e do existir.

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