sábado, 26 de março de 2011

o que espero de mim

Sou um sonhador
um eterno sonhador
Espero encontrar algo
mas nunca encontro
Sou um lutador
um eterno lutador
mas nunca sei pelo que lutar
Espero o destino me encaminhar
mas temo viver a intensidade de cada momento
Eu nunca beijei, abracei e me deixei ser abraçado
Sou um pensador
um eterno pensador
mas me perco em meus pensamentos
Estou em um beco sem saída
medos, ansiedades e angústia
desejo assumir cada risco da vida com alguém
Sou um amante platônico
isso eu sei
mas me torturo com o fato de não ter experimentado um pouco do prazer e do contato
com uma mulher que me faça feliz
Sou um aspirante à vida
mas o que espero de mim neste momento?
Tudo o que não me permiti sentir, ser, ver, almejar?
posso não entender de Drummond, Machados e afins
mas quando sinto é para valer
cada instante desejo ser mais humano por inteiro
teorias e técnicas não me fazem responder sobre o que eu quero para minha vida
Preciso parar de me esconder e minhas teorias, livros e pensamentos
Afinal? Não sou um Homem?
Cansei de mentiras
Sou um livro aberto
Sinto-me, muitas vezes, impotente, fraco e pequeno
mas preciso encontrar forças para continuar
quem quer me ajudar a encontrar o que anseio?
Sou um sonhador
um eterno sonhador
Espero encontrar algo
mas nunca encontro
Sou um lutador
um eterno lutador
mas nunca sei pelo que lutar
Espero o destino me encaminhar

quarta-feira, 9 de março de 2011

Doença Mental: Uma construção social e um estigma do sujeito.

Ao longo do desenvolvimento da sociedade, diversas explicações foram dadas com relação a fenômenos, condutas ou comportamentos que se diferem de padrões socialmente aceitos. Na idade média qualquer conduta contrária aos ideais da religião era considerada como um ato ou uma manifestação de heresia ou de feitiçaria. Era atribuído ao sujeito um papel social de feiticeiro, pelo simples fato desse mesmo indivíduo se comportar de uma forma divergente com a ideologia social e religiosa que fora instituída em determinado grupo. O que as pessoas sempre buscam não é o fato de existir ou não doença mental ou atos de feitiçaria, mas possíveis explicações causais para essas condutas que sejam boas e ações que realmente suprimem aquilo que está em desacordo com a ideologia social de um grupo.
Notícias da televisão e de quaisquer outros meios de comunicação em massa mostram como a sociedade atual lida com o termo “doença mental”. Estigmas sociais e papéis atribuídos a sujeitos de classes mais baixas do ponto de vista econômico e social são utilizados como uma forma de se tentar explicar quais os motivos para os comportamentos e condutas que estão em desacordo com a ideologia dominante da atualidade. Casos de crimes como os que foram mostrados nos noticiários de televisão ilustram a atribuição do termo “doença mental” ao sujeito e o uso desse mesmo termo como justificativa para os crimes cometidos.

Thomas S. Szasz (1977, p.22), diz que “na realidade, as disputas mais emotivas tanto na ciência quanto na religião têm-se centralizado não no fato de determinados acontecimentos serem ou não reais”. Mas no fato acerca da veracidade das explicações acerca desses comportamentos e condutas e das supressões dos atos de doença mental que sejam eficazes e boas conforme a ideologia social dominante. Há um paralelo ao longo da história entre o conceito de feitiçaria e heresia e o de doença mental. No período do fim da Idade Média, a igreja trazia uma ideologia que se fosse contestada pelos sujeitos levava a cabo uma série de práticas que eram consideradas formas de salvação da “alma” e remissão dos pecados divinos. Era atribuído o papel de feiticeiro a pessoas que praticavam a tidas “bruxarias” ou “práticas de feitiços”.
Havia pessoas que intitulavam “feiticeiros” mesmo com as atribuições que eram dadas aos “hereges” ou sujeitos contrários aos princípios religiosos dominantes.
Na sociedade moderna, surge o conceito de doença mental que se constitui como sendo um conceito semelhante ao de feitiçaria, mas que viera para substituir as explicações religiosas para as ditas formas de estar no mundo repudiadas, reprimidas e suprimidas pela ciência, em especial a Medicina e suas práticas em termos de psiquiatria institucional. A atribuição do termo doença mental surge como um mecanismo de poder e controle social referente ao comportamento humano e às formas de agir, ser, pensar ou sentir distoantes do que é considerado “normal”. Em termos práticos, percebesse que as atuais instituições ou órgãos públicos que lidam com a questão da saúde mental, em suas práticas, acabam reproduzindo o discurso social dominante de “cura” de transtornos mentais e de medicalização do “doente mental” e de supressão dos sintomas das doenças mentais.

terça-feira, 1 de março de 2011

Divisa

Mais importante do que a ciência é o seu resultado,
Uma resposta provoca uma centena de perguntas.
Mais importante do que a poesia é o seu resultado,
Um poema invoca uma centena de atos heróicos.
Mais importante do que o reconhecimento é o seu resultado,
O resultado é dor e culpa.
Mais importante do que a procriação é a criança.
Mais importante do que a evolução da criação é a evolução do criador.
Em lugar de passos imperativos, o imperador.
Em lugar de passos criativos, o criador.
Um encontro de dois: olhos nos olhos, face a face.
E quando estiveres perto, arrancar-te-ei os olhos
e colocá-los-ei no lugar dos meus;
E arrancarei meus olhos
para colocá-los no lugar dos teus;
Então ver-te-ei com os teus olhos
E tu ver-me-às com os meus.
Assim, até a coisa comum serve o silêncio
E nosso encontro permanece a meta sem cadeias:
O Iugar indeterminado, num tempo indeterminado,
A palavra indeterminada para o Homem indeterminado.

Por Jacob Levy Moreno

Publicado em Viena, 1915.