quarta-feira, 4 de maio de 2011

Rótulos do mundo atual

O mundo pósmoderno é caracterizado por um fluxo cada vez mais frequente no que diz respeito à informações,idéias, produtos e demais atividades humanas. Mas apesar
de haver esse mesmo fluxo cada vez frequente, vivemos em um mundo em que as informações se tornam rótulos ao invés de possibilitarem a liberdade, criatividade espontaneidade do humano em vários aspectos de seu ser. No passado, as pessoas comuns eram rotuladas de diversas formas. As "bruxas" e "feiticeiras", os "leprosos" e os "loucos" eram os principais rotulados das eras medieval e moderna. Aquela pessoa que não correspondia aos padrões e determinações sociais era rotulado conforme padrões, normais e leis que circulavam no fluxo de informações. Atualmente, tem-se o "ansioso", "depressivo", "neurótico" entre outras formas de se rotular as pessoas. Estas são seres-no-mundo que trazem suas experiências e vivências singulares. Mas o que se vê com frequência são as próprias determinações e limitações da liberdade, criatividade e espontaneidade. Autores de uma psicologia experimental (positivista), seguindo padrões estabelecidos pelas ciências físicas-naturais. "Remédios, pílulas da juventude, ritalinas da vida além dos anti-depressivos" são cada vez mais expostos em um mundo em que a ciência racionalista domina. O que podemos pensar e refletir diante dessas tidas fórmulas de "cura" dos males que a sociedade moderna trouxeram?
Limitando a liberdade do ser humano, trazendo efeitos prejudiciais à totalidade que é o ser humano (mente, espírito, corpo, aspectos sociais e culturais) e trazendo alívio temporário ao mal-estar, à angústia e ao enfrentamento de uma sociedade excludente, massificadora e estigmatizadora são alguns efeitos ocasionados pelo desenvolvimento de nosso tempo. Nos esquecemos de nosso papel de sujeitos ativos, críticos e que entram em contato com o mais íntimo de sua subjetividade. Ainda persistem as mesmas estruturas deterministas, mas com uma roupagem nova, ou seja, os novos rótulos encobriram os antigos e o produto final é o mesmo de um mundo dominante. Somos seres não apenas individuais, mas estamos em relação o tempo todo com o nosso mundo. Buscamos um sentido para nossa existência, mesmo com as perdas com que lidamos diariamente. Mas parece que as atividades tão humanas estão se perdendo. A televisão e outros meios de comunicação determinam para nós esse mesmo sentido. As aspirações últimas do ser-humano não mais estão presentes, pois basta escolher o caminho do "bem" ou do "mal" das telenovelas, dos filmes de grande bilheteria e dos prozacs e ritalinas da vida. Onde está o outro com quem e o mundo em que nos relacionamos?
Os diagnósticos dos psiquiatras e a aplicação de testes, além do consumo cada vez maior de medicamentos tornam difícil pensar no outro e no mundo ao nosso redor, pois pensamos mais em nossa problemática existencial individual e particular. O sujeito se constrói em relação com o mundo e o outro, não apenas isso, o mundo e o outro também são constituídos em relação com esse mesmo sujeito. Na pós-modernidade, esqueceu-se dessa co-construção e relação fundante do ser. Temos um constituição originária que nos funda, mesmo vivenciando experiências singulares, a nossa estrutura fundante é a mesma, universal e comum a demais indivíduos. Mas também esquecemos que o nossa essência e o nosso existir dependem de nossas escolhas. Escolhas estas que devem ser responsáveis e que trazem uma angústia existencial necessária para o nossa constituição enquanto seres-aí (que foram "jogados" no mundo). Angústia que possibilita ao humano uma abertura para a vida.

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