sábado, 14 de maio de 2011

Mercado de Trabalho: Otávio Naves Micheloto.

Já na minha graduação em Psicologia enfrentei problemas para conseguir realizar estágios, entrar em grupos e de aceitação. Me isolei em meu “mundo de livros”, estudei muitas teorias e defini muito cedo minha área de atuação, cínica. Há mais áreas e abordagens em Psicologia. Um “leque de opções”, empresas, escolas, clínica, instituições. Mas já sabia que iria enfrentar obstáculos no meu caminho profissional, não somente por ter deficiência, mas também pelo descrédito atual perante a Psicologia Clínica. Me formei e vi com realmente é um caminho solitário, sem facilidades e com inúmeras barreiras. Mas vejo hoje que minha formação é realmente com esforços pessoais. Empresas não quis por conta das barreiras, concursos pelo não retorno a curto prazo. Iniciei uma pós em Psicodrama para seguir o caminho da clínica, mas não consegui voluntariado para exercer minha prática, pois a lei não possibilita trabalhar voluntariamente em áreas específicas como a minha. Exemplos: psicólogo para trabalhar no hospital das clínicas de minha cidade somente concurso e não através de voluntariado e preenchimento de vagas via concurso para psicólogos já preenchidas.
Posso dizer que meu caminho vai ser por vias particulares, ou seja, pretendo construir um espaço particular para exercer minha profissão. Mesmo sem ser conhecido e ter clientela relativamente fixa, vou “percorrer” e “trilhar” minha jornada no mercado de trabalho. Mesmo estando em situação financeira “relativamente” melhor do que a de muitos com deficiência, acredito que posso realizar meus sonhos e conquistar uma atuação tão desejada. Em termos pessoais, vejo que também restringi muito minha área de atuação, mas muitos nem escolheram um caminho. Na rede pública é inviável conseguir cargos, pois gastaria muito tempo para ter retorno e a lei das cotas não benéfica pessoas com deficiência na prática, o que é complicado para mim. Além disso, os salários são baixos e irrisórios. Já na rede privada, pelas cotas poderia conseguir, mas não seria na linha que escolhi para atuar. Então, prefiro correr os riscos e seguir sozinho. O mercado de trabalho no campo das deficiências, para mim, acaba refletindo a constituição social de aspectos como exclusão, desinteresse, negligência, descaso entre outras atribuições que acabam dificultando a verdadeira inserção no “mundo profissional”. Não tenho a quem recorrer quando preciso de indicações para conseguir um emprego. Não me considero socialmente influente e vejo que esse aspecto pesa muito quando se fala no campo profissional, apesar dos rótulos e da “camuflagem” que vejo nos discursos sociais sobre trabalho e atuação profissional.
Quando paro e penso no que conquistei e ainda vou conquistar, me encontro diante de encruzilhadas e incertezas perante o que enfrentar, aos desafios profissionais e os percalços do “mundo do trabalho”. Enfrentei dificuldades recentes, pois não consegui emprego em uma escola de ensino infantil. Não fui atrás dos motivos e nem me informaram dos mesmos. Mas posso concluir que supostamente o fato de eu ser cadeirante foi um dos motivos de não ter conseguido o cargo. Mas vou continuar minha trajetória profissional mesmo com esse fato que ocorreu. Posso não entender muito de inclusão, lei de cotas, mais sei que a nossa sociedade precisa mudar. As próprias empresas não reconhecem o tanto que a participação de minha classe pode ser benéfica para ambos, patrão e pessoas com deficiências. A mudança deve partir não somente das pessoas e de suas atitudes, mas de diversos mecanismos legais, da estrutura social e principalmente das empresas tanto públicas como privadas. Pois só assim é que conseguiremos nos realizar profissionalmente e pessoalmente.

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