domingo, 27 de fevereiro de 2011

Percepção

A nossa existência é repleta de estímulos. uns são percebidos com facilidade outros nem tanto. Sentimos com apenas uma parte de nosso ser e de nossos sentidos os objetos que nos rodeiam. Abra-se a nossa frente uma campo de "coisas" que podemos ou não tomar consciência em determinado momento. Nosso corpo se relaciona intimamente com o mundo e com os outros que nos rodeiam. A relação Eu-mundo-outro nos caracteriza como seres no mundo. Ao mesmo tempo em que modifico o mundo a meu redor, esse mesmo mundo traz elementos que possibilitam o nosso desenvolvimento e a constituição de nossa essência como homens livres e responsáveis. Nos relacionamos com as outras pessoas que nos rodeiam. O outro possui para minha existência um papel fundamental, pois assim como o mundo, esse outro ao mesmo tempo em que se constitui enquanto ser-no-mundo, me possibilita a constituição de uma essência e existir enquanto sujeito. Somos seres relacionais, que utilizam sua percepção nas relações com a realidade que nos cerca. Apesar de nascermos e morrermos sozinhos, nos relacionamos o tempo todo com as outras pessoas, o que nos possibilita estabelecermos nosso campo perceptivo. Como diz Merleau-Ponty, os objetos que surgem em nosso campo perceptivo são objetos para nossa consciência, pois tomamos consciência da existência desse mesmo objeto.
Durante muito tempo acreditou-se que a percepção consistia em simples processos fisiológicos em que um estímulo era captado em um receptor e transmitido, chegando a um centro de registro que estava localizado no cérebro. Com o decorrer do tempo, surge um intelectualismo que considera a percepção como resultante de processos de pensamento e reflexão e não da simples conexão neural de estímulos feita pelo organismo. Ambas concepções falham ao considerar apenas um fator no caso da percepção. A retomada aos fenômenos como surge à consciência antes de qualquer reflexão traz para a a compreensão e entendimento de percepção. Tanto o fisiológico como o intelectual são aspectos importantes para a percepção, mas o mais importante é saber que esta é mais do que esses dois aspectos, pois corresponde a meu relacionamento com o mundo e com os objetos e pessoas que surgem em nosso campo perceptivo. O fenômeno que surge em nosso campo percetivo é anterior a qualquer pretenção científica ou reflexão e especulação do pensamento. Voltando às coisas-mesmas, fazemos uma redução fenomenológica e percebemos como realmente a nossa realidade funciona. A nossa consciência se amplia para captarmos os fenômenos com todas as suas nuances, qualidades e aspectos distintivos. Não devemos nos esquecer que o nosso corpo também está imbricado no relacionamento com o mundo, já que percebemos a nossa realidade não somente com nossa mente, mas com todo o nosso ser, inclusive nosso corpo que é mais do que um feixe de nervos e uma máquina com simples reações automatizadas. Também não usamos nossa mente sem que o nosso organismo faça sua parte. Na verdade, somos uma totalidade: física, psicológica, cultural, social e histórica. O nosso corpo também corresponde a essa totalidade. Reagimos às situações específicas também com nosso corpo. Muitas vezes nos esquecemos de que a nossa existência como seres-no-mundo também é corporal, o que traz consequências não desejadas, pois somos limitados do ponto de vista corpóreo, mas não em termos de transcendência.
A percepção se relaciona a uma atitude do corpo em que a apreensão de sensações se faz através desse mesmo corpo. Trata-se de uma expressão criadora que se constitui através de diferentes olhares sobre o mundo. Sentimos, olhamos e reconhecemos o espaço como expressivo e simbólico através de nossa percepção. Nesta há um processo em que o mundo sensível se relaciona ao mundo expressivo através de uma trajetória perceptiva. Resumindo, podemos compreender que a percepção não corresponde a um processo fisiológico pura e simplesmente, mas a um círculo em que o sensório motor é envolvido com uma unidade dinâmica. O organismo atua no sentido de fazer com que o sistema seja modificado, o que gera distintas possibilidades de respostas. A relação entre o sistema aferente (inicialmente transmissor de estímulos) e eferente (inicialmente processador de estímulos que se tornam respostas) é modificada e torna-se circular na medida em que se desenvolve uma teoria fenomenológica da percepção.

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