segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Liberdade e voltar-se para si mesmo:

Dia 13-12-2010
A época atual trouxe algumas mudanças em termos tecnológicos, humanos, científicos, sociais e culturais. Mas essas diversas mudanças influenciaram e ainda influenciam a forma como os indivíduos lidam com o mundo ao redor, com as demais pessoas e consigo mesmo. Em um período que pode ser chamado de Modernidade, o interesse maior era o acumulo de riquezas e capital por parte dos que possuíam essas mesmas riquezas e o capital, preservação da mão-de-obra trabalhadora e regulamentação do Estado e dos governos responsáveis por manter a “Ordem” pré-estabelecida e proteger os detentores do poder.
Com o surgimento de uma era Pós-moderna, como muito bem caracteriza Bauman, começa a surgir uma sociedade de consumo e o capital passa a estar desvinculado de quaisquer mecanismos de regulação territorial e Estatal. Com as mudanças da pós-modernidade, perde-se um sentimento de pertencimento a comunidade. Mas com um consumo cada vez maior, os sujeitos tornam-se individualistas e “estranhos” aos olhos das demais pessoas. A promessa de uma liberdade e autonomia é o que marca a nova sociedade. Mas essa promessa, na verdade, não corresponde a uma verdadeira libertação dos indivíduos. Na sociedade de consumo, todos anseiam obter certa margem de poder para consumir, mas nem todas são totalmente livres para obter aquilo que é oferecido.
O ideal de liberdade torna-se uma nova forma de opressão e de ansiedade a que os sujeitos da pós-modernidade. Um dos principais dilemas da sociedade contemporânea é a perda do sentido de si mesmo por parte do indivíduo que se manifesta no consumo exagerado, nos vícios e no próprio ideal de liberdade. Pessoas que não se enquadram no padrão de consumo e de vivência na nova forma de considerar a sociedade é tido como um “estranho” e a tendência é retirar todos esses sujeitos das fronteiras a que se constituíram na sociedade pós-moderna. Locais fora das fronteiras se tornam moradia para aqueles cujo poder não fora dado. Do ponto de vistas da subjetividade, os cidadãos das grandes cidades tornam-se cada vez mais ansiosos e as diversas neuroses surgem. Mas devido a uma tentativa de controle das reações emocionais advindo de uma forma racional de lidar com a própria e, com outros sujeitos e com seu próprio eu. Entrar em contato com a centralidade ou com o núcleo antropológico do sujeito (dimensão espiritual), conforme autores como Rollo May, Viktor Frankl, Sartre entre outros, é uma necessidade do humano, pois se ao menos não conhecer a si mesmo e lidar com seus próprios sentimentos, não há como o indivíduo total encontrar com o outro. Martin Bubber descreve que num encontro entre dois sujeitos se dá através de uma relação entre o eu e o tu, no caso um sujeito que entra em contato com o outro.
O homem como um ser entra em contato consigo mesmo e possuí uma consciência que o difere dos outros animais, sendo distintamente humana. Entrando em contato consigo mesmo, o ser humano se torna mais consciente. Toda e qualquer manifestação específica do homem o possibilita transcender a si mesmo e refletir sobre sua condição de liberdade no mundo. Não uma “mera” promessa de liberdade através do consumo em si mesmo. Na prática, compreende-se que as pessoas cada vez menos entram e contato com sua interioridade e com as manifestações da dimensão espiritual de sua totalidade. Segundo Viktor Frankl, a busca de sentido é um fim a que as pessoas se dirigem, seja através da criação, da aceitação de uma situação irreversível, da vivência de um grande amor ou causa ao qual luta ou através de uma mudança de atitude perante aquilo que não pode ser mudado.
Rollo May considera que o encontro humano é uma dos meios de que dispõe o terapeuta para que haja uma expansão da consciência e enriquecimento do eu, além de corresponder à principal forma de conhecer o paciente e a si mesmo em uma terapia. Retomando o aspecto da consciência como uma capacidade distintamente humana, o autor faz uma análise a cerca do conceito de inconsciente, descrevendo como ações ou percepções potencias que não podem ou nunca serão realizadas. Na nova forma de sociedade, como o encontro entre dois sujeitos não possibilitado, esses mesmos sujeitos são “estranhos” um ao outro, pois o contato mais direto, autêntico e profundo não é possibilitado. Como descreve Sartre, o homem é livre para escolher seu destino e constitui sua essência como ser. Através da existência o homem constitui sua seu mundo subjetivo, se relaciona com as demais pessoas de forma autêntica. Sendo assim, o homem é responsável pelas escolhas que faz.
Novamente em termos práticos, os sujeitos da pós-modernidade preferem não assumir sua responsabilidade como ser livre. Não vendo sentido em se responsabilizar pelos prejuízos que sua ação possa causar para si mesmo e para os outros. A responsabilidade é dada aos outros, o que torna a ação uma má-fé por parte do sujeito que tem o poder. Os vícios são considerados como uma das formas que as pessoas encontram para aliviar a ansiedade que sempre está presente. Mas como a simples e pura satisfação de desejos e impulsos para o consumo é tomada como um fim em si mesmo, a busca de ideais que estão para além da existência em termos corporais ou anímicos não é possibilitada, o que torna vazia de sentido a vida das pessoas. Concretamente observa-se que a mídia contribui cada vez mais para o processo de perda de sentido de si mesmo por parte dos sujeitos da pós-modernidade. Produtos de beleza, corpos moldados conforme padrões de beleza, carros de última geração entre outros produtos de consumo exemplificam a perda de liberdade e de sentido de si mesmo.

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