terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Aspectos Teóricos dos Papéis: Contribuições trazidas por J.L.Moreno

Conforme a perspectiva moreniana o sujeito, ao longo de sua constituição enquanto um ser social e em relação com outros sujeitos e de seu próprio eu, passa por diversas transformações do ponto de vista dos papéis que se configuram anteriormente ao surgimento desse mesmo Eu. Segundo Moreno, todo humano não se encontra sozinho, mas em relação com outros humanos. Neste sentido, o autor desenvolve toda uma teoria acerca do desenvolvimento da identidade e da tomada, desempenho e criação dos papéis, além de enfatizar o caráter humano de ser espontâneo e criativo. A teoria dos papeis trazida por Moreno considera a importância de se olhar para a forma como o sujeito, em seus contatos com o mundo que o cerca e com as demais pessoas em seu entorno, desempenha os papéis que lhe são designados no decorrer de sua trajetória existencial.
Anteriormente ao surgimento do eu, os papéis se constituíram. Essa constituição se dá através de aspectos coletivos sejam normas sociais, scripts entre outros comportamentos que são esperados por parte do sujeito que ainda situa-se no ventre de sua mãe. Aspectos da subjetividade do indivíduo e de sua relação íntima com seu primeiro ego-auxiliar, no caso sua mãe ou cuidadora, também contribuem para o desenvolvimento dos papéis do sujeito. O primeiro universo ou a placenta social na qual o sujeito nasce constitui sua Matriz de Identidade. Inicialmente, corresponde a um universo em que não há distinção entre o sujeito, o mundo e as demais pessoas. O que possibilita ao recém nascido um contato com essa nova realidade concreta são os papéis que esse novo humano passa a desempenhar.
De acordo com Moreno (1997, p.206), “o papel pode ser definido como as formas reais e tangíveis que o eu adota”. Como a própria definição já diz, todo papel apresenta-se com algo concreto e com realidade própria ao sujeito. Além disso, não há papel sem sua relação com um contra-papel, ou seja, para que um papel seja adotado por um eu, torna-se necessário que haja uma interação complementar com outro papel, em especial o contra-papel de ego auxiliar inicial e com posterior reconhecimento do próprio eu. Um papel, para ser desempenhado, precisa de um ator e este também depende dos papéis para realizar sua existência. Ao se cristalizar a totalidade das situações em uma área operações pela qual o sujeito passou pode-se dizer que há a configuração de um papel (MORENO, 1997).
Além das duas definições anteriores, Moreno destaca outras definições mais em termos de atuação em contextos psicodramáticos, sociais e individuais como, por exemplo, sujeitos imaginários que um autor dramáticos criam, modelos para a existência ou função assumida por alguém em termos de realidade social entre outras. Mas autores recentes também contribuíram com suas definições acerca do que é um papel. Rubini (1995) descreve as principais definições de papel trazidas pelos contemporâneos de Moreno, além de descrever a origem etimológica da própria palavra papel. Segundo descreve Rubini (idem), o termo papel surge do latim medieval rotulus. Esta pode significar uma folha enrolada que contém algo escrito ou aquilo que o ator deve recitar em uma peça de teatro. Posteriormente, surgem outros significados tais como função social, profissão etc.
O autor ainda considera um aspecto referente ao papel. “Em relação ao teatro, todo papel necessita de um ator e todo ator tem um papel a desempenhar” (RUBINI, 1995, p.1). Essa afirmativa está de acordo com a exposição anterior de Moreno acerca do conceito de papel. O termo “papel” designado por Moreno advém do teatro que, anteriormente, carecia de uma realização e pleno exercício da espontaneidade e criatividade. O teatro espontâneo corresponde a uma forma de ruptura com os antigos moldes do teatro convencional adotado até então. Em conformidade com o caráter espontâneo-criador do ser humano, Moreno define papel levando em consideração a produção espontânea de cada autor e ator que entra em cena durante as dramatizações.
Quando nasce o sujeito, o primeiro contato que é estabelecido com o mundo se dá através do corpo e de suas sensações físicas e fisiológicas as quais esse mesmo sujeito ainda não toma consciência de sua ocorrência, mas, que estando presentes, precisam ser satisfeitas. A matriz de identidade começa a ser constituída ainda nos primeiros estágios de vida do indivíduo. Após iniciar um reconhecimento do próprio eu e do tu na relação, o indivíduo passa a constituir as bases psicológicas para desempenhar os papeis. Além de um reconhecimento do próprio eu, do mundo ao seu redor e do outro, um período preparatório para o que posteriormente se considera como inversão de papéis. O sujeito primeiro reconhece a existência de outra pessoa para depois se por no ponto de vista desta última.

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