quarta-feira, 9 de março de 2011

Doença Mental: Uma construção social e um estigma do sujeito.

Ao longo do desenvolvimento da sociedade, diversas explicações foram dadas com relação a fenômenos, condutas ou comportamentos que se diferem de padrões socialmente aceitos. Na idade média qualquer conduta contrária aos ideais da religião era considerada como um ato ou uma manifestação de heresia ou de feitiçaria. Era atribuído ao sujeito um papel social de feiticeiro, pelo simples fato desse mesmo indivíduo se comportar de uma forma divergente com a ideologia social e religiosa que fora instituída em determinado grupo. O que as pessoas sempre buscam não é o fato de existir ou não doença mental ou atos de feitiçaria, mas possíveis explicações causais para essas condutas que sejam boas e ações que realmente suprimem aquilo que está em desacordo com a ideologia social de um grupo.
Notícias da televisão e de quaisquer outros meios de comunicação em massa mostram como a sociedade atual lida com o termo “doença mental”. Estigmas sociais e papéis atribuídos a sujeitos de classes mais baixas do ponto de vista econômico e social são utilizados como uma forma de se tentar explicar quais os motivos para os comportamentos e condutas que estão em desacordo com a ideologia dominante da atualidade. Casos de crimes como os que foram mostrados nos noticiários de televisão ilustram a atribuição do termo “doença mental” ao sujeito e o uso desse mesmo termo como justificativa para os crimes cometidos.

Thomas S. Szasz (1977, p.22), diz que “na realidade, as disputas mais emotivas tanto na ciência quanto na religião têm-se centralizado não no fato de determinados acontecimentos serem ou não reais”. Mas no fato acerca da veracidade das explicações acerca desses comportamentos e condutas e das supressões dos atos de doença mental que sejam eficazes e boas conforme a ideologia social dominante. Há um paralelo ao longo da história entre o conceito de feitiçaria e heresia e o de doença mental. No período do fim da Idade Média, a igreja trazia uma ideologia que se fosse contestada pelos sujeitos levava a cabo uma série de práticas que eram consideradas formas de salvação da “alma” e remissão dos pecados divinos. Era atribuído o papel de feiticeiro a pessoas que praticavam a tidas “bruxarias” ou “práticas de feitiços”.
Havia pessoas que intitulavam “feiticeiros” mesmo com as atribuições que eram dadas aos “hereges” ou sujeitos contrários aos princípios religiosos dominantes.
Na sociedade moderna, surge o conceito de doença mental que se constitui como sendo um conceito semelhante ao de feitiçaria, mas que viera para substituir as explicações religiosas para as ditas formas de estar no mundo repudiadas, reprimidas e suprimidas pela ciência, em especial a Medicina e suas práticas em termos de psiquiatria institucional. A atribuição do termo doença mental surge como um mecanismo de poder e controle social referente ao comportamento humano e às formas de agir, ser, pensar ou sentir distoantes do que é considerado “normal”. Em termos práticos, percebesse que as atuais instituições ou órgãos públicos que lidam com a questão da saúde mental, em suas práticas, acabam reproduzindo o discurso social dominante de “cura” de transtornos mentais e de medicalização do “doente mental” e de supressão dos sintomas das doenças mentais.

Um comentário:

  1. Muito bem, meu amigo, muito interessante seu texto, cheio de informações e citações. Parabéns. Mas eu paro pra pensar echego a uma conclusão totalmente inconclusa(veja que paradoxo!rs), o fato é que por mais que se mudem os termos, neste caso, para doença intelectual, não se mudam as formas de tratamento por parte da sociedade e isso me desespera, porque doente intelectual, doente mental, asmático, hipertenso, diabético...todos eles não recebem um tratamento de igual pra igual e...todos nós, independentemente da situação que nos encontramos, somos seres humanos. Mas isso, infelizmente, a humanidade quase nunca reconhece! Por isso que textos como os seus são tão bons de se ler...

    ResponderExcluir